sábado, 15 de agosto de 2009

Cão de Sucesso - Genética ou Manejo?

By Maria Valladares

Nossa, essa temática é por demais complexa e polêmica. Nem sei por onde começar a dissecá-la. Mas, vamos tentar. Já vou logo avisando, rs, o post é gigantesco, mas é que não dá pra resumir, é muito complexo. Leia quem quiser!
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O grande motivo de debate é à cerca do principal ingrediente do cão de sucesso no Agility: genética ou manejo. Para começar, vamos definir manejo. Manejo é o que eu coloco como tudo que se faz com o cachorro, é a sua rotina. É como o educamos, como o criamos, como lidamos com ele. É tudo o que fazemos com ele, desde alimentação, passando por condicionamento físico e treinamento. É tudo que se adiciona ao cachorro durante sua vida. É o fator adquirido. Genética é uma variável que pode-se potencializar, no entanto não se pode alterar.
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O cão de sucesso não é somente fruto de genética ou de manejo. Todo mundo sabe que um filhote megadrive pode ser facilmente estragado pelo manejo. E que no entanto não há manejo que faça um Pequinês ser campeão mundial. Todos sabemos disso. É óbvio concluir que um dos fatores não trabalha sozinho. Bom, esta é a minha opinião, e meu método.
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Primeiro, sobre a genética. Genética determina estrutura física e instinto. Outra coisa que se confunde muito é instinto com temperamento. Instinto é o conjunto de coisas para as quais o cão está programado para fazer. Como um Border que pastoreia e um Labrador que busca coisas. Temperamento é a personalidade do cão. É se o cão é corajoso ou medroso, por exemplo. Ser corajoso ou medroso não tem nada a ver com a habilidade de pastorear ou buscar coisas. Claro, um temperamento pode atuar sinergicamente ou antagonicamente com o instinto, mas não são duas coisas iguais. Em se tratando de instintos iguais, um Border medroso pastoreia tão bem quando o corajoso, porém o fator psicológico o impede por razões diversas de apresentar o mesmo desempenho. É como dois corredores que correm a mesma coisa em um galpão fechado, mas um deles, menos tímido - TEMPERAMENTO, corre melhor em público pois não se inibe. É aquele aluno muito inteligente que não sai da nota baixa pois é preguiçoso. Por aí vai. É multifatorial demais para tentar simplificar.
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Então a genética determina estrutura física e instinto. As pessoas selecionam cachorro de Agility por temperamento, uma incoerência - já que não é algo transmissível. Não, não é transmissível. Se fosse assim mãe boa não produzia filho delinqüente, coisa que mais há por aí. Na verdade, os melhores às vezes são melhores por causa de estrutura e não de temperamento, e a seleção da melhor estrutura é feita indiretamente. É por isso tão somente que a seleção do cão de Agility dá certo. Instinto há melhores e piores. Sabemos que é difícil contornar o instinto de caça de um terrier. O Border e o Sheltie são bons pois são instintivamente focados no trabalho.
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Com a genética podemos selecionar um instinto mais favorável, o que já é feito, e estrutura, o que não é feito. Não adianta o cão ser megadrive se tiver patela frouxa ou displasia coxo-femoral. Desempenho atlético é decorrente puramente de estrutura física, de angulações de ossos, de massa muscular, de capacidade cardiopulmonar. Claro, também, mais uma vez, não adianta ter o cachorro fisicamente perfeito se não há um trabalho de treinamento físico que potencialize essa estrutura. Condicionamento físico também não se faz. Pensa-se que um Border que fica o dia inteiro no canil pode correr tão bem quando um que pastoreira 8 horas por dia. Até pode fazer isso, mas não terá a mesma vida útil. Novamente, multifatorial.
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E então vem o manejo. Manejo físico e psicológico. O físico consiste em potencializar o que o cão tem de bom fisicamente e melhorar o que não é tão bom. É bolar uma rotina de condicionamento físico para deixar o cão fisicamente capaz ao máximo. Não vejo muito um trabalho nesse sentido. Agilitista é atleta? Poucos são, pois pra mim é atleta aquele que treina condicionamento físico. Quem sabe técnica, é técnico. A maioria dos cães são técnicos. E esse trabalho de condicionamento, que gasta muito mais tempo que o treinamento técnico, é que vai fazer a diferença.
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O manejo psicológico é saber entender e lidar com o cachorro. É ensinar ao cachorro aquilo que pode fazê-lo dar o máximo de si. É ensiná-lo a se concentrar é ensiná-lo a acertar e errar, é ensinar a aceitar correções, é ensinar a enfrentar seus medos, é ensinar a gostar de correr. Esse manejo psicológico vai de acordo com o temperamento do cão. Devemos trabalhar no sentido de exacerbar o que o temperamento tem de bom, e buscar inibir o que há de ruim. É estimular a coragem e desestimular o medo. É algo que leva uma vida, são as 23 horas fora da pista. Com manejo psicológico, pode-se contornar "n" problemas de temperamento. Sabemos bem que a Jade Barbosa, apesar de ótima ginasta, não iria durar muito com todo aquele drama e chororô que ela faz. Ela é fisicamente boa, mas a cabeça a atrapalha. Às vezes dá pra contornar, outras não.
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Mas tenho certeza de uma coisa. De que MUITO cachorro bom não se torna um sucesso por que não recebe um bom manejo psicológico - o físico nem entro no mérito. Não se sabe fazer esse manejo ou, se sabe, não há paciência. Não é algo que dê resultado da noite para o dia e as pessoas desejam isso. Cachorros bons são abandonados pois apresentam temperamentos problemáticos, mas consertáveis.
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Querem saber minha mais profunda opinião? Determina-se que um cachorro é "assim" ou é "assado", pois dessa maneira jogamos nele a culpa do insucesso. Tiramos das nossas costas a culpa da falha. Afinal, não fomos nós que não ensinamos o cachorro a ser corajoso. Ele simplesmente é medroso e ponto final. O cachorro é ruim, o cachorro não tem foco, o cachorro é disperso, o cachorro não gosta, o cachorro isso, o cachorro aquilo. Alguém já parou para pensar que, em muitos casos, a culpa foi do condutor que não soube ensinar o cachorro a ser bom, não soube ensinar o cachorro a se concentrar, a gostar da coisa? É mais fácil culpar o cachorro ou a natureza do que admitirmos que nós estamos errando. Querer coisa pronta de fábrica é muito mais fácil do que trabalhar para aprontar a coisa.
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Então, cachorro de sucesso é aquele que apresenta boa matéria-prima. Isto é, fisico correto ou sem grandes defeitos, e um temperamento equilibrado ou sem grandes problemas. O resto é da sagacidade de saber trabalhar com o material que se tem para potencializá-lo. Trabalhar, trabalhar e trabalhar. Bom, MINHA concepção das coisas!!! Afinal, eu escolhi cachorro baseada na estrutura física, e temperamento eu trabalho e contorno problemas.
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Atirem as pedras, hehehehe.

http://marvallshetlands.blogspot.com/

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Concordo plenamente :)

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